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Programação de maio do Cineclube CDCC  
 
 
 
Neste mês de maio, a programação do Cineclube do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP em São Carlos traz o Especial Festival de Cannes . As sessões acontecerão aos sábados, às 20 horas, com entrada franca.
 

Dia 7 - CADA UM COM SEU CINEMA
Chacun son cinéma ou Ce petit coup au cœur quand la lumière s'éteint et que le film commence, França, 2007, Comédia/Drama, 119 minutos
Direção: 34 diretores
Um filme único, realizado por ocasião dos 60 anos do Festival de Cannes, reúne o modo como 34 cineastas de 25 países olham o cinema e as salas de exibição, lugar comum para os cinéfilos de todo o mundo. Imperdível, é uma visão do mundo do cinema e das singularidades de cada cineasta.
Ainda que todos partam de uma premissa comum: falar de cinema em três minutos; é difícil a avaliação do filme como um todo, pois uma vez que apresentam poucas ligações entre si, prevalece à individualidade de cada curta-metragem.
O resultado final é bastante superficial como potencial avaliação dos 60 anos do Festival de Cannes ou de avaliação do cinema.
Uma breve citação do Festival de Cannes:
No fim da década de 1930, chocado pela ingerência dos governos fascistas na seleção dos filmes da Mostra de Veneza, Jean Zay, ministro da Instrução Pública e de Belas Artes da França, propõe a criação de um festival de cinema de nível internacional. Em 39, Louis Lumière aceita ser o presidente da primeira edição do festival, entretanto a declaração de guerra da França e Reino Unido à Alemanha põe fim a decisão.
A primeira edição do festival só viria a acontecer em 1946. Em 1955, foi introduzida a Palma de Ouro como prêmio principal do evento, antes disso era conhecido como Grand Prix Du Festival International Du Film.
Grandes nomes do cinema já presidiram o Festival, tais como Georges Huisman, Fritz Lang, Sophia Loren, Luchino Visconti, Ingrid Bergman, Roberto Rossellini, Milos Forman, Sydney Pollack, Wim Wenders, Bernardo Bertolucci, Roman Polanski, Gérard Depardieu, Clint Eastwood, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, David Cronenberg, Liv Ullmann, David Lynch, Quentin Tarantino, Emir Kusturica, Sean Penn, Tim Burton, entre outros tantos. Em 2011, caberá a Robert De Niro o título. Já Michel Gondry ficará responsável pelo júri de curtas-metragens e da Cinéfondation, que ano passado foi de Atom Egoyan a responsabilidade.
Até a presente data, somente cinco diretores fazem parte do invejável círculo dos duplamente premiados com a Palma de Ouro: Francis Ford Coppola, Shoei Imamura, Bille August, Emir Kusturica e os irmãos Dardenne.
Fabrício Borges Moreira
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Tema: Cinema
Contém: Insinuação sexual
 
Dia 14 – KAGEMUSHA, A SOMBRA DO SAMURAI
Kagemusha, Estados Unidos/Japão, 1980, Drama, 159 minutos
Direção: Akira Kurosawa
Elenco: Tatsuya Nakadai, Tsutomu Yamazaki, Kenichi Hagiwara, Jinpachi Nezu, Shuji Otaki
O longa-metragem traz reflexões sobre as relações entre realidade e ilusão, entre o sentimento humano e a aparência externa, parcialmente baseada em fatos do Japão feudal. Akira mostra que o soberano é tão ilusório quanto seu dublê, sua sombra (tradução para kagemusha), pois com a morte do mestre era necessário que o sósia assumisse seu posto para manutenção da ordem, isto é, independentemente se fosse o rei ou seu semelhante que estivesse lá, tudo corria normalmente. Mesmo um vil ladrão poderia incorporar o espírito de grandeza de um senhor feudal. Ou seja, tudo é apenas o que convencionamos que seja.
O famoso diretor japonês, que na década de 1970 começou a receber críticas por ser um cineasta ocidentalizado, se via em más condições para filmar no Japão, pois com os fracassos comerciais de "Barba-ruiva" e "Dodeskaden" nenhuma produtora oriental queria se arriscar com os pretensiosos trabalhos de Kurosawa. Foi então que o diretor buscou recursos na União Soviética para realizar o seu "Dersu-Uzala" em 1975. Entretanto, no final desta década ele já não conseguia dinheiro em lugar algum para a realização dos seus caros projetos.
Foi aí que dois famosos fãs de Kurosawa interpuseram a favor do mestre com a Fox: Francis Ford Coppola e George Lucas. Estes que utilizaram da prosperidade de suas carreiras para ajudar na produção executiva de Kagemusha convenceram o grande estúdio dos Estados Unidos a bancar parte dos custos de produção e assim encorajaram a produtora japonesa Toho a fazer o mesmo com o restante da produção.
Desta maneira o realizador pôde levar adiante a mais cara produção feita no Japão até aquele momento, mas que ganharia a Palma de Ouro e seria indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
No decorrer das filmagens, alguns problemas entraram em cena: tempestades destruíram sets, o afastamento de Kazuo Miagawa (diretor de arte) por motivos de saúde, as brigas com Shintaro Katsu (astro que foi substituído) e com Masaru Sato (compositor habitual de Kurosawa que também foi substituído).
Fabrício Borges Moreira
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Tema: Convencionalismo
Contém: Tensão, violência moderada
 
Dia 21 – A FITA BRANCA
Das weiße Band, Alemanha, 2009, Drama/Suspense, 145 minutos
Direção: Michael Haneke
Elenco: Christian Friedel, Leonie Benesch, Ulrich Tukur, Ursina Lardi, Burghart Klaussner
Às vésperas da Primeira Guerra Mundial em um pequeno vilarejo na Alemanha, diversos crimes misteriosos acontecem causando perturbação na paz rotineira local. O filme tem esse clima de suspense do início ao fim, entretanto há um diferencial: não há grande preocupação em encontrar culpados ou inocentes, mas sim a exibição dos motivos pelos quais tais atrocidades vêm acontecendo.
No começo do filme, o narrador diz que sua narrativa seria de extrema importância para entender acontecimentos contemporâneos. De fato, a maldade está ligada a cada personagem de maneira amarrada, como se não houvesse distinção. O terrorismo pode ser entendido com base em interpretações deste excepcional longa-metragem – o poder detido em mãos autoritárias anuncia o nascimento do terrorismo, não por acaso as vítimas dos acontecimentos são os repressores e detentores do poder e a classe alienada que segue orientação dos primeiros. Outra abordagem seria a compreensão do porquê o nazismo ganhou tanta força e chegou ao poder em um dos momentos mais envergonháveis da história humana.
Haneke traz ao espectador uma intrínseca e real análise psicológica dos indivíduos envolvidos, explicitando assim, a moral de uma forma capaz de angustiar e desanimar qualquer um que pense na humanidade com otimismo. Dentro das casas de várias famílias, toma-se conhecimento de uma estrutura prioritariamente regida por autoritarismo e patriarcalismo. Crianças crescem neste ambiente de punição: em uma cena, o pastor castiga os filhos por terem feito algo errado, contudo é apresentada uma cena com portas trancadas, tudo filmado do corredor sem que o castigo seja visto por quem assiste ao filme. Há uma analogia para este fato com os crimes do holocausto, quando o regime fascista alemão não mostrava para seu povo o que estava sendo feito com inúmeros judeus que desapareciam. Tudo era feito assim de portas fechadas.
Por fim, o título é proveniente da sequência em que o pastor castiga os filhos. Ele diz que colocaria uma fita branca amarrada na forma de laço no braço do filho e no cabelo da filha para que estes se lembrassem da inocência e pureza. Porém, esta fita branca nada mais significa que uma amarra nos laços entre o dominador e o dominado, isto é, de forma a reprimir qualquer espécie de curiosidade dos filhos, o pai amarra uma fita a eles para que se lembrem que o castigo tarda mas não falha.
Fabrício Borges Moreira
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS
Tema: Terrorismo
Contém: Abuso sexual, relação sexual, violência familiar
 
Dia 28 – O LEOPARDO
Il Gattopardo, Itália,1963, Drama, 185 minutos
Direção: Luchino Visconti
Elenco: Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale, Paolo Stoppa, Romolo Valli
"É preciso que alguma coisa mude para que tudo fique como está".
O filme é uma adaptação do livro de Giuseppe Tomasi di Lampedusa que relata a queda da aristocracia italiana frente às revoluções de Garibaldi e, por consequência, da burguesia. A cena em que aparece a família de Dom Fabrizio chegando ao interior e indo assistir a uma missa, cobertos de poeira, parecem fantasmas da nobreza que não percebem que já morreram e é o seu fim, isto é, a decadência de uma classe já é salientada com estética exemplar e admirável de uma verdadeira obra de arte.
Tancredi, o sobrinho de Dom Fabrizio, adere ao movimento da unificação italiana promovido por Garibaldi. Tancredi não vê saída para os nobres, é preciso participar das lutas e da revolução para continuar controlando as massas. Ele entende que é necessária uma mudança no pensamento aristocrático para que esta entidade continue existindo, mesmo que para isso seja marcada uma divisão de poderes com a burguesia. O príncipe de Salina casa o sobrinho com uma burguesa, que é o marco da chegada desta miscelânea.
"Será que as estradas vão melhorar com a nova ordem política", é uma frase do príncipe que relata a ironia do mesmo frente ao novo sistema. Percebe-se também que ele encara os acontecimentos como uma fatalidade histórica.
O clímax é a sequência do baile, no qual há a confirmação do selo de qualidade da obra: a trilha sonora, que traz temas de Verdi. Também há uma rica exploração da fotografia nesse e em outros contextos do longa-metragem.
Enfim, é notável a realização deste importante trabalho do cinema. Com produção magnânima de Goffredo Lombardo, que relatou ser esse seu filme mais caro e o favorito de sua gama de produções.
Uma curiosidade interessante é que Luchino Visconti a principio não gostou da idéia de Burt Lancaster interpretar Dom Fabrizio, entretanto, quando se conheceram, Visconti aceitou-o e depois veio a se tornar grande amigo do "western americano".
Fabrício Borges Moreira
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Tema: Queda da aristocracia
Contém: Violência
 
Apoio Cultural VIDEO 21
 
O CDCC fica na Rua Nove de Julho, 1227, Centro.
 
Mais informações:
Tel.: (16) 3373-9772
E-mail: cdcc@cdcc.usp.br

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